Em 1º de Maio de 2013, comecei meu primeiro trabalho, montei uma estrutura para exercer minha profissão e já havia prometido para minha esposa e primeira cliente que encontraria sua mãe biológica.
A minha cliente (tratarei minha esposa a partir de agora como cliente) não via a sua mãe há 33 anos, ela foi doada na maternidade X (a qual não poderei citar por questões éticas), existente na cidade de Parnaíba. Assim que nasceu, foi entregue a uma pessoa, que hoje é sua mãe adotiva e reside em São Luís do Maranhão.
Relatarei aqui as estratégias que usei para finalizar esse caso com êxito.
Primeiramente, fui verificar o registro de nascimento da cliente, ela havia sido registrada somente aos 4 anos e 8 meses de idade, percebi logo que os seus pais adotivos não tinham participação no seu registro de nascimento, sendo que a declarante foi uma cunhada do pai adotivo, que chamaremos de Tereza (nome fictício), as testemunhas foram dois irmãos, residentes na cidade de Parnaíba Eduardo (nome fictício), que já é falecido, e Dona Francisca (nome fictício), que ainda é viva.
Mantive contatos telefônicos com a testemunha Francisca e a declarante. A testemunha tentou tirar o foco da investigação, ela afirmou que qualquer pessoa poderia ter assinado, foi ainda mais longe, até mesmo uma pessoa que estava passando na rua e foi chamada para assinar como testemunha. A declarante disse para minha cliente (em uma conversa telefônica) “Se você já viveu 33 anos sem mãe biológica, pode viver muito mais.” Esse comentário aguçou fortemente a minha curiosidade.
Dona Tereza disse que a maternidade X pegou fogo e todos os livros foram queimados, ela me passou uma “porta fria”, mas como já havia aprendido no curso da Investig, esse tipo de “porta” viria para atrapalhar o andamento da investigação.
De imediato, liguei para o grupo responsável por guardar arquivos antigos da maternidade; depois de me apresentar como detetive particular, fui bem recebido e eles se mostraram muito interessados pelo caso da mãe biológica, disse a eles o ano do nascimento (1979), falaram que eu podia me deslocar para lá, pois eles tinham todos os nascimentos daquele ano.
No dia 13 de maio de 2013, segui rumo a Parnaíba, chegando lá, me hospedei em um hotel Y por dois dias, tempo que achava suficiente para colher as provas de que precisava. Cheguei à noite, com minha cliente que por sinal estava muito nervosa; essa investigação envolvia não só o meu lado profissional, mas o pessoal, pois esse caso se tratava da vida de minha esposa, é claro, porém o lado profissional prevaleceu.
Prometi a minha mulher que acharia sua mãe ou outro parente, caso a mãe biológica não estivesse viva. Fiz dessa promessa minha motivação. Na manhã do dia 14, fui até a maternidade X, por volta das 9h, chegando na entrada, minha esposa passou mal e foi atendida por enfermeiras, para medir sua pressão, parecia que ela estava percebendo que havia algo de familiar naquele lugar.
Subimos logo em seguida para o setor de arquivo, havia duas pessoas que trabalhavam lá, o senhor Zé Paulo e a Dona Laura, pessoas que já estavam a ponto de se aposentarem; para minha surpresa, o livro do dia 05 de julho de 1979 já estava me aguardando.
Há aproximadamente 15 anos, a mãe adotiva sempre repetia o nome da mãe biológica de minha esposa, quando era questionada a respeito desse assunto, o nome dito inúmeras vezes era: Maria Tereza do Carmo (nome fictício).
Entrei naquele lugar pensando em anotar todas as mulheres que tiveram filho(s) nesta data, mas se no livro estivesse o nome que a mãe adotiva sempre pronunciava, facilitaria a investigação. Usei primeiramente, como suporte, o nome dado pela minha sogra. Zé Paulo, que era responsável por guardar arquivos, me entregou o livro, e a segunda mãe era Maria Tereza do Carmo, a hora do nascimento era o mesmo que estava no registro, 8h da manhã; verifiquei nas poucas informações sobre o parto de dona Maria do Carmo que ela não havia recebido alta na sua saída, coisa que não é comum em outros nascimentos, não havia a pessoa que foi buscá-la.
Depois descobri que era Paula, uma enfermeira que trabalhava na maternidade e efetuava doações de mães carentes, isso foi o que Dona Maria do Carmo fez. O lugar de endereço que aparecia no livro é chamado Surubim, lugar que nem os funcionários do arquivo conheciam.
Tive a informação de que uma freira, de nome Irmã Carmelita participava dessas doações, fui até a casa dela, chegando lá, ela nos recebeu muito bem e explicou que, antigamente, realmente eram feitas essas doações a pessoas que tinham mais condições financeiras e que muitas outras ficavam na fila de espera.
Saindo do local, me dirigi ao cartório onde a cliente havia sido registrada, fui bem atendido pelo escrivão substituto, que se chamava Pedro, ao passar o caso para ele e me identificar como detetive particular, as portas se abriram e o mesmo me disse: “Sejam bem-vindos!” E colocou-se à disposição para qualquer esclarecimento. Perguntei a ele qual era a garantia de que essa pessoa havia nascido realmente em 05/07/1979, Pedro me disse que as assinaturas da declarante e das testemunhas garantiriam.
Contei a ele que já sabia o nome da mãe e já tinha visitado a maternidade, perguntei se conhecia o lugar chamado Surubim, o escrivão de imediato disse “Aqui não existe esse lugar.” Foi logo fazendo a pesquisa no seu computador e apareceu Surubim, uma cidade em Recife-PE, eu falei que pela distância essa pessoa não poderia ter vindo de lá para ter um filho em Parnaíba-PI.
Resumindo, Surubim passaria a ser palavra-chave na investigação da mãe biológica. Depois de ir ao cartório e aos outros lugares, não me restava mais nada. Então retornei a São Luís-MA, notei que a minha cliente estava triste, pois a investigação havia sido interrompida por causa do lugar chamado Surubim, esse local merecia ser analizado, para que a investigação fosse levada adiante.
Depois de 2 dias, fiz uma pesquisa no meu computador e lembrei que no livro da maternidade tinha vários povoados, com base nisso, fiz a pesquisa “povoado Surubim”. Apareceu, para minha surpresa, uma cidade chamada Magalhães de Almeida e existia lá um povoado chamado Surubim, cidade próxima a Parnaíba. Verifiquei quantos anos de existência a cidade tinha, ela era bem antiga, após isso, a investigação tinha um rumo, tudo estava clareando, Deus estava me ajudando.
Liguei para a prefeitura da cidade e a atendente me passou para o secretário Paulo Roberto, contei a ele o caso e me identifiquei profissionalmente, o mesmo perguntou qual informação eu precisava, disse a ele: “De alguém que possa me levar ao povoado Surubim, que tem difícil acesso.” Tive uma ideia, perguntei a ele se na cidade tinha alguém do IBGE (instituto Brasileiro de Pesquisa), o mesmo falou que tinha dois amigos (isso foi no dia 20 de maio de 2013); disse mais, que iria procurar a Dona Maria do Carmo e pediu que eu aguardasse o telefonema dele.
Passando-se 8 dias, já era dia 28 e nada de seu Paulo Roberto me ligar, eu já traçava planos para viajar para aquela cidade novamente. Quando no dia 31 de maio (feriado), deixei meu celular carregando, quando liguei o aparelho, o TIM acusou uma ligação com DDD 86 da cidade de Parnaíba, pensei que era o amigo do cartório, mas me lembrei que era feriado, de imediato, liguei para o número, e a pessoa atendeu dizendo assim: “É o detetive Melo que está falando ?” Respondi a ele que sim. “Você sabe quem está falando?” Eu disse que não e ele respondeu: “É Paulo Roberto, da prefeitura, moro em Parnaíba; olha, o rapaz do IBGE localizou uma filha de Dona Maria do Carmo, e eu estou com o telefone dela.”
Eu anotei o número e agradeci muito, disse que Deus havia colocado ele no caminho dessa investigação. Fiquei bastante emocionado e minha esposa chorando do meu lado todo o tempo.
Liguei e uma pessoa atendeu, então perguntei: “Quem está falando?” Ela disse: “Maria do Carmo”. Logo após eu disse: “Dona Maria do Carmo, sou um amigo seu, apesar de você não me conhecer, preciso fazer duas perguntas para você.” Ela disse: “Eu já sei até o que você vai me perguntar.” A primeira é: “Você deu à luz uma criança em 05 de julho de 1979?”. Ela disse: “Sim”. A segunda pergunta: ” A senhora sabe me informar onde está essa criança?” Ela me disse: “Eu doei na maternidade e não a vi nunca mais.” E perguntou logo: ” Cadê minha filha?” Eu disse: “Está bem aqui perto de mim, quase para me tomar o telefone.” Maria do Carmo disse: “Eu quero falar com ela.” Então elas conversaram, foi emocionante e gratificante.
Eu me ajoelhei e agradeci a Deus, não sei dizer a emoção que eu senti, foi inexplicável. Alegria que só essa fascinante profissão nos proporciona, agradeço ao Investig por esse curso. Essa investigação terminou com final Feliz.
Saudações, Detetive Melo, São Luís – Ma.
Todos os personagens envolvidos neste caso possuem nomes fictícios, para assim preservarmos a identidade das pessoas envolvidas.